Metro de Lisboa, linha azul, estação do Marquês de Pombal. Estamos a três dias do Natal e a carruagem transborda. Ela entra, furando, e ficamos quase colados. As nossas pernas tocam-se e o tronco dela está a poucos centímetros do meu. Só então reparo: está a sorrir. Alguém mostrar os dentes no metro de Lisboa é uma raridade mas, cúmulo da estranheza, é a mim que o sorriso é dirigido. De entre a multidão que ocupa o espaço, justamente a mim. Ela, como se notasse o meu cepticismo, reforça o sorriso tornando-o desafiante, quase lascivo. Estamos tão próximos que ela tem de inclinar a cabeça para cima de modo a que os nossos olhares se cruzem. Retribuo o sorriso, um pouco a medo - sou novo nisto de flirts subterrâneos. Do lado dela há uma mudança na expressão, que agora parece mais de troça que outra coisa. Chegamos à estação seguinte, Avenida. Ninguém abandona a carruagem, entram algumas pessoas e a turba acotovela-se ainda mais. Então, sempre sorrindo, ela comprime o corpo contra o meu. Ficamos enroscados e sinto o contorno definido do peito dela.
20080108
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1 comentário:
Feliz ano novo, João! :*
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