Eu e Jorge, o mexicano, vamos conversando. Sobre o país dele, a Europa, Madrid, esta casa, comida, raparigas. Pergunto-lhe se a oferta amorosa aumenta muito sendo-se músico. Responde que no México, quando tocava numa banda de rock, notava mais isso. Neste momento encontra-se em Frankfurt; acho que está metido numa editora e foi tratar de negócios.
Descobri que o outro Jorge, o filho mais velho de Manuela, toca violino. Assisti a uma exibição sua na cozinha: Bach e algo de sonoridade espanhola que não identifiquei contendo um pizzicato, na minha opinião de leigo, executado de modo muito razoável. O seu irmão, Leonardo, olhava-o embevecido enquanto imitava os seus movimentos com dois palitos.
Manuela gosta de falar comigo. Talvez despejar seja um verbo mais adequado. Há algumas noites, depois de eu chegar, interceptou-me na cozinha e soltou um daqueles suspiros que me obrigou a perguntar o óbvio, se estava cansada. Desata numa série de considerações sobre como a sua vida é uma corrida constante e de como não tem tempo para o que quer que seja e de como os filhos lhe consomem os dias. Tento aligeirar a conversa, pergunto-lhe se a mãe não a costuma ajudar, enfim, ficar com os miúdos quando ela sai. Responde que não, nada disso, que a mãe lhe mói a cabeça, que prefere que a ela esteja longe e não a esteja sempre a vigiar. E conclui, es un poco cabrona, mi madre, ¿sabes?
20071011
calle de toledo, 19, (2)
por joão c. às 00:39
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