20080426

sloterdijk

Em miúdo li que a rede de transportes da Bélgica e da Holanda é tão densa que, vista do espaço, toda a zona se sintetiza num borrão de luz. Lembro-me disto enquanto constato que o comboio não chega e que posso perder o avião de regresso a Barajas. Passei o dia a andar por Amesterdão, atravessando canais, observando os canónicos Van Gogh e espreitando as proverbiais prostitutas. Estou cansado, cheio de informação nova, sinto a melancolia da despedida e tenho frio, um frio diferente daquele a que me acostumei em Madrid.
Dirijo-me a um funcionário que está na plataforma. Felizmente fala inglês, como toda a gente nesta terra plana. Oiça, esta não é a linha para Schiphol? Confirma. E o comboio, onde está? Olha para mim espantado.Pega no telemóvel e passa cinco minutos a falar naquela língua incompreensível. A dada altura tenho a sensação de que conversa sobre outros assuntos. Sinto-me desprotegido. O meu francês é rudimentar o quanto baste para descodificar bocados de conversa; do italiano vou entendendo um trecho de tempos a tempos. Aqui não consigo ter qualquer noção do que se diz: não tenho referências, estou à mercê da compreensão dos holandeses e da sua disponibilidade para falar inglês.
Há trabalhos na linha, atira-me o homem, depois de desligar. Trabalhos na linha? E como é que eu vou para o aeroporto? Vá à linha quinze, apanhe o comboio, saia em Amsterdam Sloterdijk, aí vai estar um autocarro. O seu bilhete é válido, não se preocupe. À nossa volta tinha-se juntado um punhado de outros viajantes estrangeiros. Tirando um deles, que se põe logo a andar, todos parecem mais desorientados do que eu. Não deixo de sentir uma cínica satisfação por isso.
Zarpo da inutilizada plataforma rumo à linha quinze e entro no comboio. Ele arranca vagarosamente. Faltam menos de duas horas para o meu avião e eu faço contas à vida. É noite e eu faço neste momento parte do gigantesco borrão de luz que é a rede ferroviária do Benelux. Dirjo-me a uma estação nos subúrbios de Amesterdão chamada Sloterdijk; Peter Sloterdijk é o nome de um filósofo alemão de quem li um excêntrico texto sobre biotecnologia e terrorismo.

20080414

sprint



Seis minutos de adrenalina.

20080401

photographing you photographing me



Esta é uma das melhores cenas que vi nos últimos tempos. O filme é Peeping Tom de Michael Powell.